quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Tramando fibras de bananeira e tecendo histórias de vida


TRAMANDO FIBRAS DE BANANEIRA
E TECENDO HISTÓRIAS DE VIDA

Aliciane Ferreira e Almeida de Andrade¹
Ana Flávia Gualhardo¹
Brine de Matos¹
Gabriela Neves Paula de Souza ¹
Kátia Simões Navarro Silva¹
Carlos Marin²
Clarisa Terezinha Guerra³.

            Historicamente as atividades de arteterapia, laborterapia ou praxiterapia têm se mostrado relevantes nas áreas de saúde, educação e cultura, contribuindo para que pessoas ressignifiquem suas trajetórias de vida, obtendo melhoria da capacidade individual de superar limites, bem como nas relações com o outro no convívio social. Geralmente relacionadas a atividades tradicionais integradoras (trabalhos manuais e criativos) e autoexpressivas (folclore, pintura, escultura e outras) respeitam a cultura e a subjetividade humanas.       
            Como refere Brown (2000), as artes em geral e especialmente a arteterapia têm o poder de alcançar emoções profundas, podendo mudar a maneira do ser humano sentir-se em relação ao mundo e a si mesmo.
            A partir da história pessoal de alguns estudantes e docentes Curso de Psicologia da UFMT/CUR foram sendo tecidas relações com grupos sociais da comunidade local, mais tarde com as parcerias de outros cursos da instituição e grupos que se dispuseram a colaborar com o projeto “Parceiros de Fibra”. A relevância da proposta é justificada pelo reconhecimento hoje conferido aos espaços diversos, que propiciam a reabilitação pessoal e social dos indivíduos que necessitam de alguma forma de apoio e valorização. Busca-se resgatar a importância do afeto, do trabalho e do conhecimento nas relações sociais e na melhoria da qualidade de vida.
            Assim, o projeto voltado ao aproveitamento de resíduos do pseudocaule da bananeira desenvolve suas atividades desde 2008 no município de Rondonópolis/MT. Iniciou com oficinas de artesanato no bairro Cidade de Deus, em um projeto aprovado pelo PROEXT Cultura-2007, voltado somente para mulheres, embora alguns homens tenham se envolvido com as atividades. No segundo ano de funcionamento ofereceu oficinas abertas à comunidade em espaço da UFMT/CUR e no Assentamento Fazenda Esperança. Como o interesse dos agricultores e agricultoras foi muito grande, atualmente o projeto está sendo desenvolvido somente no assentamento, mas de forma ampliada, com a participação de discentes e docentes de outros cursos do campus, com o financiamento do CNPq e em parceria com a EMPAER/MT.
            Os principais objetivos estão voltados para a produção de peças artesanais, possibilitando alternativas de geração de renda aos participantes. Contudo visa, sobretudo, promover interações sociais, melhoria da auto-estima e qualidade de vida, com respeito ao meio ambiente e com a valorização de atividades tradicionais, nas quais o artesão executa todas as fases da produção, tendo a satisfação de apreciar o processo e o produto final do seu trabalho. Acredita-se que ao manipular a fibra e moldar uma nova peça ocorre uma simbiose poética e de grande significado para o crescimento pessoal do participante, permitindo a descoberta de novas possibilidades.
            Todo o processo de desenvolvimento das atividades é realizado em oficinas semanais, onde ocorre desde o corte do pseudocaule até os processos de secagem e produção dos objetos artesanais. As atividades são oferecidas para pessoas que residem no assentamento, mas também são estabelecidas interações com indígenas da região e grupos de outros assentamentos interessados na proposta do projeto.
            Apesar das dificuldades comuns ao encaminhamento de todo e qualquer projeto, percebe-se crescente envolvimento e valorização das atividades. Os encontros têm alçançado os objetivos, desenvolvendo também a atenção e a concentração, estimulando o raciocínio lógico e a consequente organização interna que reflete no seu exterior. Entendendo a Arteterapia como promoção do encontro do indivíduo de si para consigo mesmo, de forma suave e lúdica o despertar para criação acontece com absoluta naturalidade, espontaneidade e fluidez, pois não se exige dos participantes habilidades artísticas.
            Nota-se que os participantes, mesmo quando não produzem tramas e objetos artesanais, através das conversar casuais produzem sentido para seus conteúdos e sofrimentos individuais, oportunizando momentos prazerosos diante de inúmeras dificuldades que enfrentam no seu cotidiano.
            O processo artesanal, além de gerar novas fontes de renda e agregar valor à produção das unidades familiares, prioriza a importância subjetiva que as oficinas de artesanato passaram a oferecer. “O trabalho numa oficina desvela novas formas de estar no mundo, tornando-se, assim, uma fonte de prazer para o indivíduo. A descoberta de novas perspectivas, de se saber capaz, produtivo, pessoa, cidadão, são fatores fundamentais no se tornar terapêutica uma oficina.” (GABBAY, 2004, p. 277)
            Para estudantes e docentes a experiência traz conhecimentos científicos, mas também trazem consigo aprendizagens sobre a vida, proporcionando assim interações interdisciplinares.

Palavras-chaves: Artesanato, interações sociais, autoestima, qualidade de vida.

  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOURDIEU, P. Economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1998.
BROWN, D. (2000). Arte Terapia: fundamentos. São Paulo: Vitória Régia.
CANDAU, V. M. (Org.). Sociedade, educação e cultura(s): Questões e propostas. Rio de Janeiro, Vozes, 2002.
CAPORAL, F. R., COSTABEBER, J.A. Agroecologia. Enfoque científico e estratégico. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh. 2002.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano – 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.
GARAVELLO, M. E. P. E. (coord.) A palha e o fio da bananeira. Manual de produção. ESALQ/USP, 1999.
GABBAY, R. e. col. Oficinas: um fazer/conviver terapêutico. In: Costa, C. M e Figueiredo, A. C. “Oficinas terapêuticas em saúde mental-sujeito, produção e cidadania”. Rio de Janeiro. Contra Capa, 2004. Vol. I.
OSTROWER, F. Criatividade e Processos de Criação. 22.ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
PICHON-RIVIERE, H. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, s/d.
___________. O processo de criação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 4ª ed. São Paulo, Martins Fontes, 1984.

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