domingo, 6 de março de 2011

Raissa



ROTEIRO

ARGUMENTO: Raíssa é filha de um casal donos de um bar que fica próximo a uma universidade. O bar é freqüentado, basicamente, por universitários. Raíssa vai com os pais para o bar e dorme em uma rede na parte externa, quando sente sono. Em estado de vigília, ouve a conversa dos estudantes e se transporta, no sonho, para o mundo da universidade. Raíssa sonha ser aluna universitária, mas as realidades se chocam brutalmente, fazendo com que uma nova possível realidade seja considerada.



Cena 1: Exterior-Dia-Av. dos Ingás:

A família de Raíssa (pai, mãe e ela) chega em uma camionete. O carro estaciona em frente a um bar, próximo a uma universidade, de propriedade da família, que está fechado. A porta do carro é aberta, Raíssa desce alegre e saltitante em direção à universidade. Atravessa a rua perigosamente.

MÃE

- Raíssa, minha filha, onde você vai, menina? Olha o carro, cuidado! Ai, meu Deus, essa menina...



Cena 2: Ext-Dia-Fachada frontal da Universidade

Raíssa contempla a fachada central da universidade, olhando de baixo pra cima, sugerindo o quanto se sente pequena diante daquela estrutura.



Cena 3: Ext-Noite-Bar da Família

Um barzinho do tipo “universitário” (trailer, espetinho, mesas de plástico de propaganda de cervejas, rústico). O bar agitado, com música ao vivo. Uma rede de dormir posta entre dois pilares que sustentam a extensão frontal do bar. Uma mesa com universitários bebendo, comendo e reclamando de situações típicas da vida cotidiana da sala de aula.

Uma garçonete passa, um estudante a interpela:

Carlos - ESTUDANTE MESA

- Tia, vê uma cerva aí daquelas da promoção. [Pausa, volta-se para os colegas]

- Bixo, puta que los pariu, que provinha bem ferrada aquela de ontem.



Cena 4: Ext-Dia-Fachada frontal da Universidade

Raíssa contemplando a fachada central é ultrapassada por vários estudantes, que chegam e entram nas dependências da universidade. Ela gira a cabeça para os dois lados e se insere no grupo que entra.


Cena 5: Ext/Int-Dia-Corredor/Sala de Aula de Biologia

Raíssa em frente à porta da sala de aula. O professor expondo sobre “animais mamíferos”. Ela entra, passa em frente ao professor, que a ignora. Senta-se em uma carteira e observa a aula. A fala rebuscada e essencialmente classificatória provoca a rejeição imediata nela, que comunica isso através de expressões corporais, principalmente faciais. As imagens da aula expositiva do professor serão intercaladas com cenas de Raíssa, em ambiente doméstico, fazendo carinhos e brincando, alegremente,  com seus cachorrinhos de estimação.

PROFESSOR BIO

- A palavra “mamífero” vem do latim, Mammalia. Fazem parte dos animais vertebrados e possuem a característica de possuírem glândulas mamárias nas fêmeas e presença de pelos ou cabelos. A temperatura corporal e o sistema circulatório são controlados pelo cérebro. Por possuírem “sangue quente”, são classificados como homeotérmicos. Incluem 5416 espécies, dentre os quais, os seres humanos e se distribuem em aproximadamente 1200 gêneros, 152 famílias e até 46 ordens. Tais números, no entanto, alteram-se a cada dia que passa por novas descobertas.

Raíssa observa os alunos aparentemente compenetrados, mas seu olhar repulsivo indica “desconfiança”. Parecem-lhe apáticos. Raíssa, então, levanta-se e sai “batendo os chinelos”, passa em frente ao professor, que a ignora, olha com olhar de reprovação e sai da sala.


Cena 6: Ext-Noite-Mesa perto da rede

Helder - ESTUDANTE MESA

- Cara, presta atenção, o que você queria que o professor perguntasse?! Se quem descobriu o Brasil foi Cabral, Cabrel, Cabril, Cabrol ou Cabrul? O problema não está na prova, meu! O problema é a aula. Oh velho, blá-blá-blá blá-blá-blá é “pá-cabá”. Mas quem tem coragem de encabeçar um Centro Acadêmico para exigirmos mais Laboratórios, livros na Biblioteca...

Juninho - ESTUDANTE MESA

- Tá bom que eu vou perder tempo com Centro Acadêmico! Este tempo eu uso para ficar na biblioteca estudando os poucos livros que têm, que é melhor do que nada.

TODOS NA MESA

- Ehhhhhhhh CDF!


Carlos

- Vixe, já vi tudo, bixo! Esse daí vai virar professor da universidade. [Todos na mesa riem, um dos estudantes se levanta e descabela Juninho, sugerindo “oposição” e, ao mesmo tempo, “afeto”, “amizade”. Juninho dá um “sorrisinho amarelo”]



Cena 7: Int-Dia-Sala de Aula de Economia

Raíssa sentada entre os estudantes, o professor expõe sobre aplicação no mercado financeiro.

PROFESSOR ECO

-   O mercado financeiro é o lugar onde se negocia o dinheiro que se encontra em processo de circulação, fazendo a ligação entre pessoas ou empresas que possuem ou precisam dele. [Dois estudantes cochicham ao lado de Raíssa, que os observa. Um deles aponta o dedo indicador para cima]
O professor os interpela com ar sarcástico e autoritário:
PROFESSOR ECO
- O que tanto os dois jovenzinhos conversam de tão interessante que certamente todos aqui gostariam, e precisam... de saber?
ESTUDANTE ECO
De forma bem educada, séria e, de certa forma, resignado pelas estruturas de poder estabelecidas:
- Perdão pelo mal jeito, professor. É que o meu colega aqui estava dizendo que o mundo se tornou tão agressivo porque o dinheiro tem sido tomado como “Ele” para grande parte das pessoas [apontando o dedo para cima].
PROFESSOR ECO
- Bom, continuando...  No mercado financeiro as pessoas também vão buscar serviços como seguro de vida, planos de previdência, cobrança bancária. Todos esses processos são fiscalizados e controlados por entidades como o Banco Central, a Bovespa, Comissão de Valores Mobiliários etc
  O mercado financeiro é dividido em “mercado de crédito, de câmbio e aberto”. Para se decidir sobre a melhor aplicação....
CORTA PARA


Cena 8: Ext-Dia-Casa de Raíssa
Raíssa jogando Banco Imobiliário com as amiguinhas. Com um dado na mão, conta:
RAÍSSA
Um, dois, três, quatro, cinco, seis. [Posiciona a peça]. A melhor aplicação é no mercado de imóveis. Um terreno no Morumbi não é nada mal!
BIANCA – a melhor amiga
[Tomando pra si a continuação do jogo]. Deixa, nem ligo! Sorte no jogo, azar no amor. Sabe com quem eu teclei hoje no MSN?
Raíssa vira o rosto e faz cara de “brava”.

Cena 9: Int-Noite-Sala de Aula de Matemática
O professor fala e escreve na lousa:
PROFESSOR MAT
- Dando seqüência a nossa aula de Geometria Analítica, hoje vamos estudar sobre a “Circunferência”.
Teorema: Dado um ponto C, chamado de Centro, com coordenadas a e b, a equação geral da circunferência é x2 + y2 – 2ax – 2by + a2 + b2 = r2
[Raíssa se contorce na carteira, escabela-se, faz cara de horror, torce a cabeça com as mãos na cabeça e no queixo]
CORTA PARA [ao ouvir a palavra “raio”]

Cena 10: Ext-Dia-Rua/Praça
PPP nos “raios” de uma bicicleta se movendo na rua. Abre o ângulo de visão até focar a “roda” da bicicleta. Em seguida, Raíssa andando de bicicleta e chegando em uma praça. Solta a bicicleta de qualquer jeito e corre. Na praça, uma “roda” de capoeira.
BIANCA
- Raíssa, entra aqui, entra aqui! [chamando-a para ficar ao seu lado]
Raíssa entra na “roda” batendo palma e cantando. Depois, joga capoeira.

Cena 11: Ext-Noite-Bar
Em Plano Aberto, o bar com música ao vivo, uma “roda de samba”. Em PPP, foco em um “pandeiro”. Depois abre em plano médio para um grupo de samba que canta:
Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há (2x)
Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho
Mas, eu vim de lá pequinininho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho (2x)
Sempre fui obediente,
mas não pude resistir
Foi n'uma roda de samba
Que eu me juntei foi aos bambas pra me distrair
Quando eu voltar pra Bahia...

(D. Ivone Lara)

CORTA PARA
Cena 12: Int-Noite-Sala de Aula de Matemática
PROFESSOR MAT
- Sendo assim, o centro é dado pelo ponto de abscissa 2 e ordenada 3. Alguma dúvida, pessoal?
ESTUDANTE MAT
- Professor, será que daria para, pelo menos, desenhar uma circunferência? [Rindo, em tom de “derrotado”]
PROFESSOR MAT
- Que desenhar, coisa nenhuma, é preciso “abstrair” as formas e vê-las em sua plenitude e beleza algébricas! [O professor fala já desenhando uma circunferência em um plano cartesiano com um “compasso” de madeira]
[Esta imagem deve ser sobreposta, com uma transição em “fusão” com um capoeirista girando no ar em forma de “compasso”, em slow]
FADE-OUT


Cena 13: Ext-Noite-Mesa Perto da Rede
Um estudante, na mesa, decora a matéria para  a prova. Lê no caderno e depois repete a mesma frase, olhando para cima:
Pedro - ESTUDANTE MESA
 - Vigas são barras retas e prismáticas que ocasionam maior resistência ao cisalhamento e flexão.
 - Vigas são barras retas e prismáticas que ocasionam maior resistência ao cisalhamento e flexão.
Após a Cena 14, volta para o Bar, onde o estudante continua repetindo a mesma frase.
Cena 14: Int-Dia-Prédio em Construção
Raíssa, com roupas sujas, com bonezinho, carrega tijolos para um pedreiro, um senhor velho, barba mal feita. Uma voz do “além” repete várias vezes:
 - “Vigas são barras retas e prismáticas que ocasionam maior resistência ao cisalhamento e flexão”.

Cena 15: Ext-Noite-Mesa Próxima à Rede
De ora em diante, situações absurdas que objetivam desestruturar qualquer tentativa de compreensão linear por parte do expectador. De certa forma, antecipa aos mais astutos que pode se tratar de um “sonho”; sonhos costumam ser absurdos.
Um garçom passa com uma bandeja. Um estudante o chama:

PEDRO

- Professor...[É professor mesmo!]
CORTA PARA

Cena16: Int-Noite-Sala de Aula Qualquer-1
Um professor em pé diante do quadro responde:
PROFESSOR QUALQUER-1
- Pois não!
PEDRO
- Um espetinho completo e um refrigerante, por favor!

Cena 17: Ext-Noite-Corredor
O garçom que fora interpelado no bar, por Pedro, passa com uma bandeja em frente à Sala de Aula Qualquer-2. Todos os estudantes miram o olhar no garçom. Em seguida, o professor passa distribuindo folhas que sugerem ser “provas”.
ESTUDANTE-A QUALQUER-2
- Só isso! [Sugere protestar a nota da prova]
ESTUDANTE-B QUALQUER-2
O professor entrega uma folha comprida e fina de meio metro, aproximadamente, de comprimento.
- Tudo isso?! [Sugere protestar o que parece ser a conta de um bar]

Cena 18: Ext-Noite-Corredor
Raíssa andando pelo corredor, passa em frente à SALA DE AULA QUALQUER-2. Em Plano Médio, o PROFESSOR QUALQUER-2 é visto ao fundo. Raíssa prossegue pelo corredor e chega em frente à Sala de Aula de Pedagogia. Pára em frente e observa a professora brincando de roda com as alunas. No quadro está escrito: “Ludicidade”. No caminho, entre a Sala de Aula Qualquer-2 e a Sala de Aula de Pedagogia, entra “trilha” da música “Se Essa Rua Fosse Minha”, a brincadeira de roda que Raíssa irá presenciar quando chegar à porta.
Raíssa pára em frente à porta por poucos segundos, faz cara de “incrédula”, belisca o próprio braço, aperta seus caderninhos ao peito e prossegue pelo corredor. A câmera por trás, em OFF se ouve sua voz:
RAÍSSA
- Ai meu Deus, devo estar sonhando!
CORTA PARA
Raíssa chegando na Sala de Aula de Letras, entrando.

[A Cena 18 será intercalada com a Cena 19]

Cena 19: Int-Noite-Sala de Aula de Pedagogia
As alunas brincam de roda com a professora.

Cena 20: Int-Noite-Sala de Aula de Letras
A professora de Letras, expondo sobre o tema “Linguagem”, fala de Poesia, de Literatura, Cinema, Teatro. [A professora em questão será uma professora de Letras de verdade, doutoranda em Literatura e não interpretará fala decorada. Falará de improviso. O linguajar será enfadonho para uma criança. Falará de Semiologia, Semiótica, Análise do Discurso, Psicanálise].
Raíssa vai se dando por vencida. Já não reage mais com “caras e bocas”. Vai “murchando”, descendo os ombros, abaixando o rosto, demonstrando profunda tristeza e sentimento de derrota.
[A Cena 20 será intercalada com a Cena 21]
Ao final da Cena 21, Raíssa reaparece na mesma carteira que estava anteriormente na Sala de Aula de Letras, mas com a roupa de Vitória-Régia. Não aparenta mais olhar tristonho, tampouco feliz, apenas profunda indiferença. A professora continua falando sem parar coisas que, para ela, parecem absurdas. Raíssa sai da sala balançando a cabeça, como negação, a professora continua falando, ignora que Raíssa passa em sua frente, quase a atropela.

Cena 21: Int-Noite-Teatro da Universidade
Raíssa sentada na primeira fileira do Teatro com a mesma expressão da sala de aula, profundamente tristonha. No palco, um grupo de teatro encenando a Cena II, A Mata em Perigo, da Peça “Te Amo Amazônia” (Paulo César Coutinho)

Cena II – A Mata em perigo
(Entram Carnaúba e Vitória)
Carnaúba – Que festa maravilhosa!
Vitória – O rio estava cheio de estrelas.
Carnaúba – E a serenata? A floresta inteira parou para ouvir.
Vitória – Ficou tudo encantado com a lua dormindo no meio da mata.
(O Boto entra cambaleando) [Raíssa então sorri do jeito engraçado do Boto]
Vitória – Boto! Você ta bêbado! [Raíssa sorri mais efusiva]. Onde foi que você andou? Aposto que foi na casa da Piranha. Eu já tinha notado seu chamego com aquela dentuça. [Raíssa gargalha]
Boto – Que bêbado nada, Vitória, a água do rio tá suja, com gosto esquisito.
[Dessa fala em diante, Raíssa aparece no palco vestida tal e qual à Vitória-Régia e assume seu papel na trama, a atriz anterior, obviamente, sai de cena]
Vitória – Imagine, que mentira, a água do rio tá suja. Bem que eu andava desconfiada.
Boto – Mas Vitória, eu to doente.
Vitória – Não quero conversa. Conheço sua doença!
Boto – Ta bem ingrata, eu vou embora.
(boto sai)
Vitória – Viu só, Carnaúba?
[A Cena 21 será intercalada com a Cena 22]
(Entra o Jabuti, cantando um tango)
Jabuti -
Tengo la imprensión
que estoy sendo perseguido
lá impressión que perseguido estoy
tengo la mania que estoy sendo perseguido
que perseguido estoy
[Um casal profissional de tango, que não faz parte da peça, dança o tango em cima do palco junto com o Jabuti]




Cena 22: Ext-Noite-Corredor Externo do Teatro
Raíssa no corredor externo do teatro caminhando e a voz, em OFF, da professora continua sua fala de sala de aula. Passando pela porta lateral que dá vista para o palco, vê o Jabuti cantando e o casal dançando o tango.

Cena 23: Ext-Noite-Bar
Raíssa, vestida de Vitória-Régia, atravessa a rua que passa em frente ao bar. Em PAN, vê-se uma grande festa acontecendo no bar. Um verdadeiro “centro cultural” em ação. Espetáculos circenses (engolidores de fogo, perna-de-pau, malabaris). Varal de poesia, exposição de telas, esculturas.
Raíssa, chega no bar caminhando normal, como se nada tivesse acontecendo, caminha em direção à rede, passa ao lado do casal que dança tango, que surge aí em fusão com a cena do teatro. Raíssa abre a rede e deita.
A festa será uma efetiva confraternização da equipe de atores e produção, todos aí estarão. As imagens filmadas livremente, serão editadas em slow. As filmagens da festa serão feitas um dia após um evento da UNEMAT, o Varal de Poesia. Vários elementos cinegráficos advirão do Varal, inclusive personalidades.
Estas cenas serão acompanhas de trilha musical, “Essa Menina” (Domínio Público, adaptação de Paulo Freire), interpretada por Ana Salvagni.
Essa menina não dorme na cama
Dorme na limeira, debaixo da rama

Xô, xô, passarinho
Não me coma esse arroz
Esse arroz é de Iaiá
Que me mandou apanhar

FADE – trilha sonora, um som forte, indicando fim de alguma coisa.

Cena 24: Ext-Noite-Bar
Apenas as lâmpadas internas do bar estão acesas. As mesas e cadeiras empilhadas. O pai de Raíssa passa uma corrente com cadeado para garantir a segurança. Uma funcionária recolhe a última sujeira do chão em uma pazinha. A mãe de Raíssa balança a rede:
MÃE
- Raíssa, acorda minha filha!
Raíssa levanta da rede com uma roupa diferente de todas que usou, uma camisetinha de escola e com um olhar arregalado, de criança sapeca.
RAÍSSA
- Mãe, eu não quero ir pra universidade! [fala meio chorosa]
MÃE
- Que universidade, minha filha, a gente tá indo pra casa, o bar ta fechando!
RAÍSSA
- A mãe nunca entende nada mesmo! [e deita na rede novamente]


Cena 25 (FINAL): Int-Noite-Teatro da UNEMAT/Varal de Poesia/4 de junho de 2008/Abertura
Raíssa surge no palco recitando “ESCOLA DA VIDA” (Santiago Villela Marques), poema feito especialmente para este filme.


ESCOLA DA VIDA – Santiago Villela Marques

Acordei no escuro um dia:
de tanta coisa que ver,
de tudo o que eu já sabia,
faltava muito saber.
Na minha fome menina,
pus na língua um “Por quê?”
e perguntei: “Quem me ensina?”

Por que toda festa finda?
Por que o céu não é de glacê?
Por que se enfeita tão linda
a flor, só para morrer?
Por que o que é gostoso termina?
Por que vou ter que crescer?
Por quê? Por quê? Quem me ensina?

Por que não nasci sabida?
Por que não nasci diplomada,
com a vida toda aprendida
e a lição de casa tomada?
Pra que tanta disciplina
na vida indisciplinada?
A Vida, é assim que se ensina?

Atrás da fria teoria,
um homem sério e barbudo
abre uma folha vazia
e avisa que sabe de tudo.
É todo voz e doutrina,
todo palavra, mas mudo
da vida que o livro não ensina.

A mão de ciências ranzinzas
escreve em cal e descansa
em mentes e mármores cinzas
sua letra de desesperança.
Mas a Vida – arte divina,
coisa de artista e criança –,
que lei ou fórmula ensina?

Ensinam a sabedoria
de vencer sempre o mais forte
e a produzir mais-valia
e à dor chamar “falta de sorte”.
Mas esta mão assassina,
boa em fazer leis e morte,
a Vida, ela nunca me ensina.

Aula administrativa
Ocupada em traçar destinos,
quando a estrada é livre e é viva
e não se mede em alexandrinos
– a tristeza masculina
a dispor em planos-de-ensinos
o que apenas a Vida ensina.

Meu nome não é Faria,
Cardoso, Santos, Marinho.
Me chamo Raíssa ou Maria,
nome como eu, pequeninho.
A mim – mulher e menina –,
que busco um outro caminho,
este mundo de homens ensina?

Eu gosto primeiro da Vida
que antes fala ao coração.
A Vida, tão colorida
que não cabe em branco e carvão.
Aquela que encontro na esquina,
aonde doutores não vão.
Esta, quem é que me ensina?

Distante do Amor e da Vida,
volto a meu sono dormir,
à espera do amor pela Vida
que me moveu, mas não vi.
E sonho a questão, cristalina:
De tudo que soube e ouvi,
a Vida, quem é que me ensina?

A edição deverá cobrir com imagens do filme, e outras inéditas, o texto do poema. Por exemplo:
Ensinam a sabedoria
de vencer sempre o mais forte
e a produzir mais-valia
e à dor chamar “falta de sorte”.

Este trecho será coberto com a imagem de Raíssa com o pedreiro quando fala da “mais-valia” e com uma maca entrando em um hospital, quando fala de “falta de sorte”, sugerindo um acidente de trabalho.

FIM
Argumento
Denizalde Pereira
Anézio Santana

Roteiro
Denizalde Pereira
Santiago Vilela Marques

Assistentes de Roteiro
Anézio Santana
Marcos Fábio da Silva

Poema “Escola da Vida”
Santiago Vilela Marques

Inspiração
Raíssa

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