<ENTRADA FRANCA>
*Após a exibição será feito o debate do filme.
Local: Anfiteatro da Unemat.
Data e Horário: Sábado, dia 08/08, às 19 horas
Título original: “Cet Obscur Objet Du Désir”
Diretor: Luis Buñuel
Produção: 1977
Lançamento: 17 de agosto de 1977
País de origem: França / Espanha
Idioma do Áudio: Francês
Elenco:
Fernando Rey
Carole Bouquet
Ángela Molina
Julien Bertheau
Gênero: Drama / Romance
Tamanho do arquivo: 4.37 GiB
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos
SINOPSE:
Logo
após Mathieu (Fernando Rey) entrar em um trem, ele joga um balde de água numa
bela jovem que estava na plataforma, causando uma grande surpresa para os
passageiros que ocupavam a mesma cabine de Mathieu. Ele resolve explicar para
os outros passageiros a razão do seu ato e lhes conta que ficou bem obcecado
por Conchita (Carole Bouquet), uma bela arrumadeira que parecia nunca ter
trabalhado antes com as mãos. Começou então um jogo de gato e rato no qual Mathieu,
um homem rico e sofisticado que está entrando na 3ª idade, tenta obsessivamente
ganhar os afetos de uma jovem de 18 anos. Assim ela manipula o desejo carnal
dele e cada um tenta ganhar absoluto controle sobre o outro.
CRÍTICA:
Buñuel
e sua Via Láctea de simbolismos.
Falar
em Buñuel é falar em cenas aparentemente sem sentido, em situações absurdas, em
acontecimentos bizarros e em surrealismo. Falar em surrealismo, por sua vez, é
falar em Salvador Dali e Freud, em inconsciente e psicanálise, e em filosofia e
um bom papo de boteco. Por isso, para alguns filmes de Buñuel como “Um Cão
Andaluz” e “Idade do Ouro”, as teorias mais aceitáveis de uma racionalização do
entendimento são advindas das filosofias dos bêbados. Levando em conta todos
esses fatores, e estando eu sóbrio – ou quase – me vejo no direito de fazer uma
análise fundamentada em meras suposições. O intuito, pois, não é delimitar
perfeitamente cada entrelinha dentro de uma lógica cartesiana, mas sim tentar
entender discretamente os tantos “porquês” que a mente do diretor nos propõe.
À
queima-roupa talvez possa parecer uma tarefa árdua que exige uma sublime
resignação interpretar Buñuel e sua Via Láctea de simbolismo, mas com o tempo
se tornar instigante buscar o subtexto nos enigmas. Especificamente este
derradeiro trabalho, “Este Obscuro Objeto do Desejo”, pode passar a impressão
de que a premissa seja demasiada simples levando-se em conta os filmes
supracitados, mas não se engane, a pseudo-simplicidade pode ser um balde de
água fria em sua cabeça.
Basicamente
o filme gira em torno das desventuras amorosas e da relação contratual entre um
homem um tanto velho e rico, Mathieu (Fernando Rey), e uma bela moça virgem,
Conchita (Carole Bouquet e Angela Molina), nos quais as características são modeladas
a partir do padrão determinista, em que se impõem os desejos.
A
trama desenvolve-se a partir da perplexidade de alguns passageiros em um trem,
quando se deparam com Mathieu jogando um balde de água em Conchita sem motivos
aparentes. Assim, eles interrogam-no para descobrir o motivo de tal atrocidade.
Antes
de tudo é preciso entender que o filme pode ser desmembrado em dois planos
interpolados e opostos. A oposição se dá entre o plano das relações pessoais e
o terrorismo que se apresenta nas cidades. Para os personagens o que diz
respeito ao terrorismo e qualquer outro aspecto que não faça parte de si mesmos
é irrelevante, bem como para os espectadores. Utilizando técnicas de
automatismo, Buñuel compõe a narrativa de forma que até mesmo os espectadores
se esqueçam - ou não dêem devida importância – para esse segundo plano, que vem
a ser de fundamental significância.
O
terrorismo aqui é metaforizado como a importância das coisas externas e a falta
de preocupação com elas remete ao egocentrismo dos personagens. Nessa visão,
toda atitude por mais altruísta que possa parecer é, na verdade,um desesperado
grito por se fazer passar por altruísta em compaixão com seu próprio egoísmo:
no fundo, todos pensam em si mesmos e no prazer próprio de fazer bem aos
outros.
A
construção sutil dos personagens também está vinculada ao determinismo,
doutrina na qual as circunstâncias externas determinam inexoravelmente a
natureza dos seres vivos. Dessa forma, Mathieu é constituído de forma
homogenia, alegórica, sem nunca sair do padrão tipicamente burguês (tão
criticado pelo diretor), e todas as suas atitudes correspondem a esse meio social.
Ele não se importa em pagar para ter o que quer e isso devido ao seu
materialismo psicológico que é designado pelas suas origens sociais. Outro
exemplo é evidenciado pela Conchita, que é interpretada por duas atrizes
diferentes. Uma representa todo o “Glamour” francês, e a outra o lado mais
“Caliente” espanhol. É como se os fatores externos fossem um retrato do que os
personagens realmente são por dentro.
Para
entender o título convém retornarmos 15 anos no passado e atravessarmos o
Atlântico. No filme “O Anjo Exterminador”, em uma conversa sobre o
questionamento da virgindade, surge o seguinte diálogo: - Ela é virgem? – Sim,
ainda conserva esse objeto. Agora que já se sabe a que objeto do título faz
alusão, o cartaz do filme torna-se ainda mais claro. A “boca” fechada do cartaz
e o “objeto obscuro” do título comprovam o quão restrita é a relação dos dois
personagens. Mathieu restringe-se a querer Conchita e pretende atingir seu
objetivo nem que tenha que comprar “esse obscuro objeto do desejo” que ela representa
para ele. Conchita, por sua vez, parece apenas querer ser amada, e manipulá-lo
de todas as formas possíveis para conseguir isso. Ela não tem pretensão alguma
de se entregar, mas o seduz mesmo assim, subjuga-o sem jamais lhe dar a
satisfação de conseguir o que tanto deseja. Chega ao extremo de torturá-lo
fingindo se entregar a outro homem em sua frente, mas no dia seguinte o procura
e o ver infeliz é ter a certeza de ser amada para ela. Ambos são mesquinhos.
Ambos não enxergam além do próprio nariz.
E
como qualquer análise que se faça de algum filme de Luis Buñuel não deve ser
totalmente linear, quebrarei aqui a expectativa, pedindo que esqueçam tudo dito
anteriormente. Todo o estudo acima feito parte do princípio duvidoso de que a
narração seja verdadeira. Não esqueçamos que praticamente toda a história é
narrada através de Flash Backs contados por Mathieu. O mesmo homem
estereotipado por Buñuel em diversas ocasiões como sendo o burguês de
aparências, cuja maior preocupação é o pensamento alheio a seu respeito. Se nem
mesmo o diretor confia nele, por que devemos, nós, confiarmos? De fato toda a
história aparenta ter uma dose grande de exageros. Segundo ele próprio “Essa
mulher é a pior mulher da Terra”. E quantos fatos foram omitidos? Quantos
distorcidos? Quantos não foram se quer foram contados? Enfim, resta-nos apegar então
no desfecho da história: nele, Buñuel subverte toda a realidade em um baque
final, sem deixar dúvidas, sem deixar rastros.
PREMIAÇÕES:
*Indicado
ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Roteiro
Curiosidades:
*Último
filme dirigido por Buñuel.
Duração: 103 minutos
FONTES:
Filmow:
Google:
IMDB:
Making Off:
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