<ENTRADA
FRANCA>
* Baseado
no conto “Eight O'Clock in the Morning”, de Ray Nelson
*Após
a exibição será feito o debate do filme.
Local: Anfiteatro da Unemat
Data e Horário: 19/09, às 19 horas
Título original: “They Live”
Diretor: John Carpenter
Produção: 1988
Lançamento: 4 de Novembro de 1988 (Mundial)
1 de Dezembro de 1989 (Brasil)
País de origem: EUA
Idioma do Áudio: Inglês
Elenco:
Roddy
Piper
Keith
David
Meg
Foster
George 'Buck' Flower
Peter Jason
Gênero: Ficção Científica / Thriller /
Ação
Tamanho do arquivo: 606 Mb
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
SINOPSE:
John
Nada (Roddy Piper) é um trabalhador braçal que chega a Los Angeles e encontra
trabalho numa fábrica. Durante uma inusitada operação repressiva, a polícia
destrói um quarteirão inteiro do bairro miserável em que vive. Na confusão Nada
encontra óculos escuros aparentemente comuns, porém ao usá-los consegue
enxergar horrendas criaturas alienígenas disfarçadas de seres humanos, bem como
as mensagens subliminares que elas transmitem através da mídia em geral. Nada
percebe que os invasores já estão controlando o planeta e, juntamente com seu
companheiro de trabalho Frank (Keith David), decide se engajar no movimento de
resistência, que é perseguido como subversivo pela polícia.
CRÍTICA:
As
primeiras cenas de Eles Vivem não nos são estranhas: grandes prédios, anúncios
publicitários, outdoors, constante movimento de massas, miséria e
marginalidade. Enfim, todos os signos que caracterizam e preenchem qualquer
cidade grande se fazem presentes. Mas o senso narrativo da direção de John
Carpenter obviamente pedirá algo mais destas imagens, e não precisamos de muito
tempo para termos sua sobriedade cênica revelada neste início de filme: não
apenas um universo é estabelecido (uma metrópole), mas também o papel assumido
pelo personagem principal dentro deste universo (um andarilho em busca de
emprego) e a natureza deste personagem (um trabalhador braçal em busca de
qualquer oportunidade de trabalho nas cidades por onde passa).
Trata-se
de um filme de John Carpenter e deste fato poucas dúvidas restarão. Vários
elementos característicos de sua obra poderão ser encontrados e se tornarão
reconhecíveis rapidamente e sem muitos pormenores: os outsiders, uma cidade
abrigando uma enorme quantidade de excluídos, um sentimento inconformista que
dará a impressão de estar prestes a explodir em algo que não sabemos bem o que
é, as inquirições tão próprias que seu cinema realiza sobre sociedade, o papel
do indivíduo nesta e como ambos se relacionam etc.
Vemos
que está tudo aqui, é uma obra autoral, retornamos aos velhos temas e ao modelo
da "direção invisível" que caracteriza o diretor...; enfim, mais um
trabalho que expande o "corpo de trabalho" deste cineasta. Todavia
parece mais interessante no caso de Eles Vivem perguntar sob quais condições o
filme amplia a obra de Carpenter do que simplesmente perceber e apontar a
existência de uma função carpenteriana.
Ao
analisarmos a porção inicial da carreira de Carpenter, diversas vezes
esbarramos em momentos onde sua encenação transforma a própria representação
cinematográfica em objeto de problematização. Tomemos, por exemplo, o clássico
plano inicial de Halloween: como bem aponta a crítica de Fernando Verissimo,
"... um plano-sequência no qual, sob o ponto de vista do assassino, somos
compelidos a testemunhar/executar um assassinato". Tal utilização deste
tipo de recurso se repetirá em pelo menos dois outros filmes deste período, A
Bruma Assassina e Christine - O Carro Assassino. Mas obviamente não é apenas
por meio do domínio técnico que o cineasta levanta seus questionamentos
referentes a este mecanismo de identificação tão natural ao cinema: a temática
da possessão, dividida por O Enigma de Outro Mundo e Starman - O Homem das
Estrelas, abre espaço para indagações das mais diversas relacionadas às
interpretações que ambos os filmes possibilitam.
E
é assim que adentramos um terreno inesgotável, uma vez que Eles Vivem é
facilmente identificável como uma das obras mais vastas do diretor entre as que
abordam diretamente a imagem. Não é nenhuma coincidência este ser um dos mais
politizados trabalhos de Carpenter, pois ao passo que trabalha com temas e
sub-temas de natureza político-econômica (a quase todo momento nos deparamos
com comentários dos mais pertinentes, quando não hilariantes, acerca dos
efeitos da Era Reagan na sociedade americana), é a própria função política da
imagem que será dissecada pela sua direção.
Retornemos,
pois, ao início... Retornemos aos outdoors, aos anúncios publicitários...
Retornemos à entrada em cena do andarilho/proletário (creditado apenas como
"Nada"), à sua chegada naquela que imediatamente reconhecemos como
metrópole. A princípio aceitamos a imagem por aquilo que ela aparenta ser mas
necessariamente desconfiamos de algo, pois o protagonista divide conosco - como
a câmera no já referido prólogo de Halloween - a função de espectador, uma vez
que, como nós, é um recém-chegado a este universo. E é desta forma que com ele
estranhamos o descontrole patente daqueles que freqüentam a igreja próxima do
abrigo comunitário onde passa suas noites; estranhamos mensagens subliminares
em televisões; estranhamos o fato de testemunharmos constantemente a situação
miserável de grande parcela da população e, no entanto, sermos rodeados pelo
reflexo de um sucesso e um exagero consumista que não se fazem presentes no
espaço decadente com o qual nos deparamos. O controle que Carpenter exibe sobre
este material é nada menos que assustador: à medida que Nada passa a desconfiar
daquilo que o cerca, que percebe algo de muito estranho ocorrendo ao seu redor,
somos tirados da cômoda posição que ocupamos de espectadores e assumimos, tal
qual o protagonista, o papel de investigadores.
Menos
estranho não é o momento em que, junto com Nada, colocamos óculos escuros e
descobrimos tudo aquilo que anúncios de revistas, campanhas publicitárias e
programas televisivos ocultam: uma overdose de mensagens de conteúdos dos mais
ditatoriais e autoritários ("submeta-se", "continue
dormindo", "consuma", "não pense", "assista
T.V." e, talvez o mais genial de todos, "este é seu Deus" ao
mostrar um punhado de dólares nas mãos de um vendedor). Mas maior será nossa
surpresa quando temos revelado aquele que é, com certeza, o mais inusitado
contorno que Carpenter imprime ao seu roteiro (assinado com o pseudônimo
"Frank Armitage"): a existência de alienígenas que, sob a falsa aparência
de seres humanos, estão a concretizar uma invasão de natureza social e
econômica que se dá por meio do controle daqueles humanos que almejam o sucesso
exibido nos anúncios publicitários (de autoria, não por acaso, dos tais
alienígenas).
Nos
deparamos com a quase completa desconstrução de um mundo que aos nossos olhos
se fez real durante toda a primeira metade do filme, justamente aquela em que
Carpenter trata de uma importante vertente de sua obra e propriamente aquela
que se faz necessária no início: o embate presente na relação entre indivíduo e
sociedade. A descoberta de uma diferente realidade determina uma nova
possibilidade de mundo para Nada e de imagem para nós (através da utilização
dos óculos escuros no caso de Nada e no nosso caso por meio da apreciação e
reflexão da imagem cinematográfica), e será a partir deste novo cenário que
Nada traçará novos rumos referentes ao papel que ocupa como indivíduo
(primeiramente quando se dá a liberdade de eliminar os alienígenas,
posteriormente ao se juntar a um grupo de resistência humana) e que nós
passaremos a pôr em xeque os diversos desdobramentos que a interpretação de uma
imagem - qualquer uma - estabelece.
Seria
errada e falsa qualquer tentativa de transformar Carpenter em herói. Se por um
lado ele se importa com seus personagens, tenta compreendê-los dentro dos
limites de cada um (o colega de Nada que possui uma família, o padre que sai a
pregar pelas ruas clamando a revolta e a indignação das camadas mais baixas da
sociedade), por outro ele não tomará a posição de piedoso observador, não
passará as mãos nas cabecinhas de seus marginais e não manterá nenhum de seus
personagens nas posições de recalcados, miseráveis ou fracassados. Carpenter
pede de seu protagonista tanto quanto do espectador uma atitude, e se esta se
institui pela anarquia de mandar tudo às favas e partir para a guerra como
Nada, ou pela participação do espectador na pesquisa empreendida por seu cinema
a respeito das acepções que a imagem adquire, pouco importa: um posicionamento precisará
ser adotado.
É
com Eles Vivem que Carpenter passa a integrar o panteão destes raros artistas
(pensemos em Godard, Welles, Lang, Eastwood, De Palma, Kiarostami, Argento e
Resnais) que, partindo do movimento da imagem, transformam a própria no ponto
convergente de suas investigações, e mesmo que nos direcionamentos e propósitos
as pesquisas destes senhores tomem os rumos mais ecléticos imagináveis o que se
torna importante é o fato de termos um cinema que ponha em dúvida os méritos de
suas próprias leis e estatutos... e que, por tais razões, talvez seja o maior
de todos os cinemas: aquele que evoca o pensamento a seu respeito.
PREMIAÇÕES:
Academia
de Filmes de Ficção Científica, Fantasia e Horror dos Estados Unidos
Indicado
ao Prêmio Saturno na categoria “Melhor Música” (1990)
Fantasporto
Indicado
à categoria de “Melhor Filme” (1989)
Curiosidades:
-
"Eles Vivem" é uma homenagem do diretor John Carpenter aos filmes B
de ficção científica das décadas de 40 e 50.
-
Nos créditos de "Eles Vivem" aparece Frank Armitage como responsável
pelo roteiro. Trata-se de um pseudônimo utilizado pelo diretor John Carpenter.
-
O personagem John Nada foi retirado por John Carpenter da revista em quadrinhos
Alien Encounters.
-
A briga entre Nada e Frank deveria ter apenas 20 segundos, mas os próprios
atores decidiram por brigar de verdade quando fizessem a cena, evitando apenas
socos nos rostos. John Carpenter ficou tão impressionado com a cena que decidiu
por mantê-la intacta no filme.
-
O orçamento de "Eles Vivem" foi de US$ 4 milhões.
Referências:
Pregador: Fora de nossa visão, eles estão
se alimentando de nós. Parados sobre nós, do nascimento até a morte, eles são
os nosso donos. Eles nos têm, eles nos controlam. Eles são nossos mestres.
Acorde! Eles estão a nossa volta!
Duração: 93 minutos
FONTES:
IMDB:
Filmow:
Livraria Cultura:
Making Off:
Wikipedia, the free encyclopedia:
TRECHO DE "O GUIA PERVERTIDO DA IDEOLOGIA", SOBRE "THEY LIVE"
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