quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O CINECLUBE ZUMBIS APRESENTA: “ELES VIVEM”





<ENTRADA FRANCA>

* Baseado no conto “Eight O'Clock in the Morning”, de Ray Nelson
  *Após a exibição será feito o debate do filme.

Local: Anfiteatro da Unemat

Data e Horário: 19/09, às 19 horas

Título original: “They Live”

Diretor: John Carpenter

Produção: 1988

Lançamento: 4 de Novembro de 1988 (Mundial)
1 de Dezembro de 1989 (Brasil)

País de origem: EUA

Idioma do Áudio: Inglês

Elenco:

Roddy Piper
Keith David
Meg Foster
George 'Buck' Flower
Peter Jason

Gênero: Ficção Científica / Thriller / Ação

Tamanho do arquivo: 606 Mb

CLASSIFICAÇÃO: 14 anos

SINOPSE:

John Nada (Roddy Piper) é um trabalhador braçal que chega a Los Angeles e encontra trabalho numa fábrica. Durante uma inusitada operação repressiva, a polícia destrói um quarteirão inteiro do bairro miserável em que vive. Na confusão Nada encontra óculos escuros aparentemente comuns, porém ao usá-los consegue enxergar horrendas criaturas alienígenas disfarçadas de seres humanos, bem como as mensagens subliminares que elas transmitem através da mídia em geral. Nada percebe que os invasores já estão controlando o planeta e, juntamente com seu companheiro de trabalho Frank (Keith David), decide se engajar no movimento de resistência, que é perseguido como subversivo pela polícia.

CRÍTICA:

As primeiras cenas de Eles Vivem não nos são estranhas: grandes prédios, anúncios publicitários, outdoors, constante movimento de massas, miséria e marginalidade. Enfim, todos os signos que caracterizam e preenchem qualquer cidade grande se fazem presentes. Mas o senso narrativo da direção de John Carpenter obviamente pedirá algo mais destas imagens, e não precisamos de muito tempo para termos sua sobriedade cênica revelada neste início de filme: não apenas um universo é estabelecido (uma metrópole), mas também o papel assumido pelo personagem principal dentro deste universo (um andarilho em busca de emprego) e a natureza deste personagem (um trabalhador braçal em busca de qualquer oportunidade de trabalho nas cidades por onde passa).
 
Trata-se de um filme de John Carpenter e deste fato poucas dúvidas restarão. Vários elementos característicos de sua obra poderão ser encontrados e se tornarão reconhecíveis rapidamente e sem muitos pormenores: os outsiders, uma cidade abrigando uma enorme quantidade de excluídos, um sentimento inconformista que dará a impressão de estar prestes a explodir em algo que não sabemos bem o que é, as inquirições tão próprias que seu cinema realiza sobre sociedade, o papel do indivíduo nesta e como ambos se relacionam etc.

Vemos que está tudo aqui, é uma obra autoral, retornamos aos velhos temas e ao modelo da "direção invisível" que caracteriza o diretor...; enfim, mais um trabalho que expande o "corpo de trabalho" deste cineasta. Todavia parece mais interessante no caso de Eles Vivem perguntar sob quais condições o filme amplia a obra de Carpenter do que simplesmente perceber e apontar a existência de uma função carpenteriana.

Ao analisarmos a porção inicial da carreira de Carpenter, diversas vezes esbarramos em momentos onde sua encenação transforma a própria representação cinematográfica em objeto de problematização. Tomemos, por exemplo, o clássico plano inicial de Halloween: como bem aponta a crítica de Fernando Verissimo, "... um plano-sequência no qual, sob o ponto de vista do assassino, somos compelidos a testemunhar/executar um assassinato". Tal utilização deste tipo de recurso se repetirá em pelo menos dois outros filmes deste período, A Bruma Assassina e Christine - O Carro Assassino. Mas obviamente não é apenas por meio do domínio técnico que o cineasta levanta seus questionamentos referentes a este mecanismo de identificação tão natural ao cinema: a temática da possessão, dividida por O Enigma de Outro Mundo e Starman - O Homem das Estrelas, abre espaço para indagações das mais diversas relacionadas às interpretações que ambos os filmes possibilitam.

E é assim que adentramos um terreno inesgotável, uma vez que Eles Vivem é facilmente identificável como uma das obras mais vastas do diretor entre as que abordam diretamente a imagem. Não é nenhuma coincidência este ser um dos mais politizados trabalhos de Carpenter, pois ao passo que trabalha com temas e sub-temas de natureza político-econômica (a quase todo momento nos deparamos com comentários dos mais pertinentes, quando não hilariantes, acerca dos efeitos da Era Reagan na sociedade americana), é a própria função política da imagem que será dissecada pela sua direção.



Retornemos, pois, ao início... Retornemos aos outdoors, aos anúncios publicitários... Retornemos à entrada em cena do andarilho/proletário (creditado apenas como "Nada"), à sua chegada naquela que imediatamente reconhecemos como metrópole. A princípio aceitamos a imagem por aquilo que ela aparenta ser mas necessariamente desconfiamos de algo, pois o protagonista divide conosco - como a câmera no já referido prólogo de Halloween - a função de espectador, uma vez que, como nós, é um recém-chegado a este universo. E é desta forma que com ele estranhamos o descontrole patente daqueles que freqüentam a igreja próxima do abrigo comunitário onde passa suas noites; estranhamos mensagens subliminares em televisões; estranhamos o fato de testemunharmos constantemente a situação miserável de grande parcela da população e, no entanto, sermos rodeados pelo reflexo de um sucesso e um exagero consumista que não se fazem presentes no espaço decadente com o qual nos deparamos. O controle que Carpenter exibe sobre este material é nada menos que assustador: à medida que Nada passa a desconfiar daquilo que o cerca, que percebe algo de muito estranho ocorrendo ao seu redor, somos tirados da cômoda posição que ocupamos de espectadores e assumimos, tal qual o protagonista, o papel de investigadores.

Menos estranho não é o momento em que, junto com Nada, colocamos óculos escuros e descobrimos tudo aquilo que anúncios de revistas, campanhas publicitárias e programas televisivos ocultam: uma overdose de mensagens de conteúdos dos mais ditatoriais e autoritários ("submeta-se", "continue dormindo", "consuma", "não pense", "assista T.V." e, talvez o mais genial de todos, "este é seu Deus" ao mostrar um punhado de dólares nas mãos de um vendedor). Mas maior será nossa surpresa quando temos revelado aquele que é, com certeza, o mais inusitado contorno que Carpenter imprime ao seu roteiro (assinado com o pseudônimo "Frank Armitage"): a existência de alienígenas que, sob a falsa aparência de seres humanos, estão a concretizar uma invasão de natureza social e econômica que se dá por meio do controle daqueles humanos que almejam o sucesso exibido nos anúncios publicitários (de autoria, não por acaso, dos tais alienígenas).

Nos deparamos com a quase completa desconstrução de um mundo que aos nossos olhos se fez real durante toda a primeira metade do filme, justamente aquela em que Carpenter trata de uma importante vertente de sua obra e propriamente aquela que se faz necessária no início: o embate presente na relação entre indivíduo e sociedade. A descoberta de uma diferente realidade determina uma nova possibilidade de mundo para Nada e de imagem para nós (através da utilização dos óculos escuros no caso de Nada e no nosso caso por meio da apreciação e reflexão da imagem cinematográfica), e será a partir deste novo cenário que Nada traçará novos rumos referentes ao papel que ocupa como indivíduo (primeiramente quando se dá a liberdade de eliminar os alienígenas, posteriormente ao se juntar a um grupo de resistência humana) e que nós passaremos a pôr em xeque os diversos desdobramentos que a interpretação de uma imagem - qualquer uma - estabelece.

Seria errada e falsa qualquer tentativa de transformar Carpenter em herói. Se por um lado ele se importa com seus personagens, tenta compreendê-los dentro dos limites de cada um (o colega de Nada que possui uma família, o padre que sai a pregar pelas ruas clamando a revolta e a indignação das camadas mais baixas da sociedade), por outro ele não tomará a posição de piedoso observador, não passará as mãos nas cabecinhas de seus marginais e não manterá nenhum de seus personagens nas posições de recalcados, miseráveis ou fracassados. Carpenter pede de seu protagonista tanto quanto do espectador uma atitude, e se esta se institui pela anarquia de mandar tudo às favas e partir para a guerra como Nada, ou pela participação do espectador na pesquisa empreendida por seu cinema a respeito das acepções que a imagem adquire, pouco importa: um posicionamento precisará ser adotado.

É com Eles Vivem que Carpenter passa a integrar o panteão destes raros artistas (pensemos em Godard, Welles, Lang, Eastwood, De Palma, Kiarostami, Argento e Resnais) que, partindo do movimento da imagem, transformam a própria no ponto convergente de suas investigações, e mesmo que nos direcionamentos e propósitos as pesquisas destes senhores tomem os rumos mais ecléticos imagináveis o que se torna importante é o fato de termos um cinema que ponha em dúvida os méritos de suas próprias leis e estatutos... e que, por tais razões, talvez seja o maior de todos os cinemas: aquele que evoca o pensamento a seu respeito.

PREMIAÇÕES:

Academia de Filmes de Ficção Científica, Fantasia e Horror dos Estados Unidos
Indicado ao Prêmio Saturno na categoria “Melhor Música” (1990)

Fantasporto
Indicado à categoria de “Melhor Filme” (1989)

Curiosidades:

- "Eles Vivem" é uma homenagem do diretor John Carpenter aos filmes B de ficção científica das décadas de 40 e 50.

- Nos créditos de "Eles Vivem" aparece Frank Armitage como responsável pelo roteiro. Trata-se de um pseudônimo utilizado pelo diretor John Carpenter.

- O personagem John Nada foi retirado por John Carpenter da revista em quadrinhos Alien Encounters.

- A briga entre Nada e Frank deveria ter apenas 20 segundos, mas os próprios atores decidiram por brigar de verdade quando fizessem a cena, evitando apenas socos nos rostos. John Carpenter ficou tão impressionado com a cena que decidiu por mantê-la intacta no filme.

- O orçamento de "Eles Vivem" foi de US$ 4 milhões.

Referências:

Pregador: Fora de nossa visão, eles estão se alimentando de nós. Parados sobre nós, do nascimento até a morte, eles são os nosso donos. Eles nos têm, eles nos controlam. Eles são nossos mestres. Acorde! Eles estão a nossa volta!

Duração: 93 minutos

FONTES:

IMDB:


Filmow:


Livraria Cultura:


Making Off:


Wikipedia, the free encyclopedia:






TRECHO DE "O GUIA PERVERTIDO DA IDEOLOGIA", SOBRE "THEY LIVE"



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